Abstracionismo

Abstracionismo Hoje: Quando a Ausência de Forma Grita o Essencial

Na era da informação visual excessiva, onde imagens são consumidas em segundos e descartadas logo em seguida, o Abstracionismo ressurge como um respiro. Longe de seguir modismos, ele se afirma no século XXI com uma força silenciosa, porém penetrante, ao propor o vazio, o invisível e o subjetivo como protagonistas da arte.

A ausência de forma concreta, longe de ser limitação, torna-se convite à reflexão, evocando sensações, memórias e afetos que não cabem em narrativas literais. Hoje, mais do que nunca, essa linguagem ganha novos contornos e plataformas, sendo explorada por artistas de diversas culturas e tecnologias.

A Persistência do Abstracionismo no Século XXI

Embora o Abstracionismo tenha surgido no início do século XX com nomes como Wassily Kandinsky, Kazimir Malevich e Piet Mondrian, sua relevância não se encerrou com o modernismo. Pelo contrário: muitos artistas contemporâneos redescobrem o potencial da abstração para lidar com questões atuais; desde o colapso ambiental até o esvaziamento das relações humanas diante da hiperconectividade digital.

De acordo com Abstraction in the Twentieth Century: Total Risk, Freedom, Discipline (1996), do teórico Mark Rosenthal, a abstração nunca foi apenas uma rejeição à figuração, mas uma tentativa de acessar outras formas de verdade. No século XXI, essa busca continua. Artistas como Julie Mehretu, Mark Bradford e Tomma Abts têm usado a abstração para tratar de temas sociais, históricos e afetivos, muitas vezes de forma crítica, sem abrir mão da complexidade visual.

Além disso, a arte digital e o uso de algoritmos trouxeram uma nova camada ao Abstracionismo no século XXI. Projetos generativos, como os de Casey Reas ou Rafael Lozano-Hemmer, produzem formas imprevisíveis, que fogem do controle humano e nos obrigam a reavaliar a ideia de autoria e intenção. Isso é especialmente notável em exposições como “Unsupervised”, de Refik Anadol, exibida no MoMA (Nova York), onde a Inteligência Artificial cria imagens abstratas a partir da memória visual do próprio museu.

O Essencial se Torna Visível na Ausência

Em uma sociedade saturada de signos e propagandas, o Abstracionismo oferece um espaço onde o olhar pode desacelerar. A ausência de forma identificável permite que cada observador projete sua experiência, tornando a obra de arte um campo de possibilidades. Essa abertura é, paradoxalmente, o que torna a arte abstrata tão rica e, muitas vezes, tão desconcertante.

Abstracionismo
(Source: Envato)

A filósofa e crítica Susan Sontag já alertava para os perigos da “hermenêutica obsessiva” , pois o desejo compulsivo de encontrar sentido em tudo. Em Against Interpretation (1966), ela defende a experiência estética direta, sem a necessidade de decifração. O Abstracionismo, nesse sentido, é uma forma de resistência à lógica utilitária que rege tantos aspectos da vida contemporânea.

No Brasil, artistas como Eleonore Koch e Luiz Zerbini atualizam essa tradição com sutileza e sofisticação. Zerbini, por exemplo, mistura geometrias e gestos orgânicos que evocam paisagens tropicais, memórias coloniais e uma percepção caleidoscópica da realidade.

Entre Galerias e Algoritmos: Novas Linguagens da Abstração

Com a ascensão das redes sociais e das plataformas de NFTs, a arte abstrata ganhou novos formatos e públicos. Muitos colecionadores digitais se encantam pela estética abstrata justamente por seu poder de diferenciação e por seu apelo emocional atemporal. O projeto Art Blocks, por exemplo, reúne uma série de artistas que trabalham com arte generativa abstrata, muitas vezes codificando emoções e estruturas complexas em algoritmos.

Museus também têm respondido a esse interesse renovado. O Centre Pompidou, em Paris, inaugurou recentemente uma ala dedicada à arte digital, onde a abstração aparece em instalações imersivas e interativas. Em exposições como Digital Abstractions, vê-se como o abstrato se adapta, sem perder sua essência.

A ausência de forma, nesse novo contexto, não é apagamento, mas amplificação do essencial. Como já dizia Paul Klee, “A arte não reproduz o visível, ela torna visível”. No Abstracionismo contemporâneo, essa premissa ganha uma nova urgência.

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