Cubismo

Do Cubismo ao NFT: Como a Fragmentação Molda a Arte Moderna e Digital

A arte, em constante transformação, reflete não apenas os avanços técnicos de sua época, mas também os valores e angústias do mundo ao redor. Um dos aspectos mais notáveis dessa evolução é a fragmentação, sendo um conceito que se destacou com o cubismo e se desdobra hoje nas criações digitais em NFT.

Do início do século XX às inovações do blockchain, a fragmentação visual e conceitual acompanha o olhar artístico. Ela rompe com a ideia de unidade e cria novos modos de ver, interpretar e consumir arte. Do cubismo à arte digital, essa lógica se mantém viva, instigante e revolucionária.

Cubismo: A Origem da Fragmentação Visual

O cubismo surgiu como uma ruptura radical com a tradição renascentista, que valorizava a perspectiva linear e a representação realista do mundo. Liderado por Pablo Picasso e Georges Braque, o movimento propunha uma decomposição geométrica das formas. A realidade era “quebrada” em ângulos e facetas que coexistiam em uma única tela.

Cubismo
(Source: iStock)

Segundo o historiador da arte Ernst Gombrich, no clássico A História da Arte, o cubismo “marcou a substituição da imitação visual pela análise conceitual” (Gombrich, 2000). Em vez de mostrar o que o olho vê, ele passou a mostrar o que a mente compreende, simultaneamente e em múltiplas perspectivas.

Esse novo olhar rompeu fronteiras: não só pintores, mas também escultores e até escritores passaram a explorar a fragmentação como ferramenta expressiva. O resultado foi uma mudança profunda na sensibilidade estética do século XX, abrindo caminho para outros movimentos modernos.

NFTs e a Fragmentação da Propriedade Artística

Com o advento da tecnologia digital e da blockchain, a arte voltou a se fragmentar. Sendo assim, em termos de posse, autoria e circulação. Os NFTs (tokens não fungíveis) são arquivos digitais únicos registrados em blockchain que permitem atribuir valor e autenticidade a obras virtuais.

Assim como o cubismo desafiou a forma de ver o objeto artístico, os NFTs desafiam a noção tradicional de posse. Hoje, uma obra pode ser vendida em fragmentos digitais ou mesmo em tiragens numeradas e programadas. Além disso, artistas ganham novas formas de remuneração e autonomia.

O artista Beeple, por exemplo, vendeu a obra Everydays: The First 5000 Days como NFT por US$ 69 milhões. A Christie’s — tradicional casa de leilões fundada em 1766 — foi a responsável pela venda, sinalizando a legitimação desse novo formato de arte. Esse evento é considerado um marco na história da arte digital.

Além disso, plataformas como OpenSea e Foundation têm impulsionado um ecossistema artístico que se alimenta da fragmentação: artistas criam, compartilham e comercializam suas obras sem intermediários.

Fragmentação como Linguagem e Ruptura Contínua

A fragmentação, portanto, deixa de ser apenas estética ou tecnológica: ela se transforma em linguagem. É uma forma de refletir o mundo contemporâneo — marcado por sobrecarga de informações, múltiplas narrativas e realidades paralelas.

Essa lógica também aparece em museus e curadorias. O MoMA (Museum of Modern Art), por exemplo, tem promovido exposições que reúnem obras digitais e cubistas sob um mesmo eixo temático, reconhecendo as interseções entre passado e presente. Em seu site, é possível acessar acervos que mostram essa transição visual e conceitual ao longo do século.

O teórico Nicholas Bourriaud, em Estética Relacional (1998), observa que a arte contemporânea não busca mais representar o mundo, mas sim “construir mundos”. Essa construção, muitas vezes, é feita com fragmentos, sendo assim, pedaços que o artista reorganiza, digital ou fisicamente, para criar novos sentidos.

Assim como o cubismo iniciou a quebra do ponto de vista único, o NFT promove a descentralização total da arte. Ambos os movimentos rejeitam o todo fixo em favor do múltiplo, do híbrido e do descentralizado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *