O caminho entre o realismo e o expressionismo representa uma das transições mais profundas da história da arte ocidental. Enquanto o realismo buscava retratar a vida com fidelidade, o expressionismo trouxe à tona o mundo interior dos artistas, rompendo com a objetividade e colocando em primeiro plano a emoção.
Ambos os movimentos surgiram como resposta a contextos sociais intensos. O realismo nasceu no século XIX, como crítica ao idealismo romântico, e o expressionismo floresceu no início do século XX, marcado pelas crises existenciais do mundo moderno.
Compreender essa transição é também refletir sobre como a arte interpreta o sentir humano ao longo do tempo.
Realismo: O Espelho da Sociedade
O realismo surgiu na França por volta de 1850, tendo como expoente Gustave Courbet, que desejava pintar a vida como ela era. Seu famoso manifesto artístico dizia: “Não posso pintar anjos porque nunca os vi.”
Esse desejo de retratar o cotidiano, os trabalhadores e a realidade nua e crua aparece em obras como O Enterro em Ornans (1849), considerado o marco do movimento.
Autores como Linda Nochlin, em Realism (1971), apontam que o realismo não apenas imitava a realidade, mas a analisava criticamente. A arte realista funcionava como um instrumento político. Ao mostrar as desigualdades sociais, por exemplo, artistas buscavam conscientizar e mobilizar a população.
Além de Courbet, nomes como Jean-François Millet e Honoré Daumier também se destacaram. No Brasil, Almeida Júnior tornou-se uma figura central do realismo nacional, pintando caipiras e cenas do interior paulista com olhar sensível.
Expressionismo: A Arte como Grito Emocional
Com o passar do tempo, o olhar racional do realismo já não era suficiente para lidar com as angústias do século XX. A industrialização acelerada, as guerras e as transformações urbanas abriram espaço para uma arte mais subjetiva.
Surge então o expressionismo, movimento que não se preocupava com a fidelidade visual, mas sim com a intensidade das emoções.
Um dos primeiros nomes do movimento foi Edvard Munch, cujo quadro O Grito (1893) tornou-se ícone do desespero moderno. No livro Expressionism (Norbert Wolf, 2004), o autor afirma que a estética expressionista “não busca representar o mundo, mas interpretá-lo à luz do caos interior”.
Os artistas distorciam formas, abusavam das cores fortes e criavam composições que provocavam impacto direto.
Na Alemanha, o grupo Die Brücke (“A Ponte”) foi um dos mais influentes, reunindo artistas como Ernst Ludwig Kirchner. Já o Der Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul”), liderado por Kandinsky, aproximou o expressionismo da espiritualidade e da abstração.
Quando o Sentir Supera o Ver
A transição do realismo ao expressionismo não foi apenas estética, mas filosófica. O foco deixou de ser o mundo exterior e passou a habitar o território íntimo da alma. Ainda hoje, essas influências reverberam na arte contemporânea.
Pintores como Francis Bacon e mesmo fotógrafos modernos exploram distorções emocionais que dialogam com o expressionismo.
Instituições como o MoMA, em Nova York, dedicam exposições frequentes a artistas que transitaram por essas correntes, mostrando como a sensibilidade artística é um reflexo do seu tempo. Afinal, em um mundo em constante transformação, a arte continua sendo uma forma de sentir o que muitas vezes não conseguimos dizer.