A videoarte surgiu no século XX como uma ruptura com os formatos tradicionais da arte. Ao unir som, imagem em movimento e instalação, esse meio trouxe novas formas de expressão que desafiam o olhar convencional. Não se trata apenas de estética, mas de uma linguagem que provoca, denuncia e também imerge o espectador em experiências sensoriais únicas.
Com o avanço das tecnologias e o acesso mais amplo a ferramentas digitais, a videoarte conquistou espaço em museus e bienais ao redor do mundo. Desde os primeiros experimentos até os trabalhos mais contemporâneos, ela dialoga com o tempo presente de maneira crítica, mas também profundamente sensível.
As Origens da Videoarte e sua Função Crítica
A videoarte nasceu na década de 1960, impulsionada por artistas que buscavam novas linguagens fora do circuito da arte comercial. Um dos pioneiros foi Nam June Paik, considerado o pai da videoarte, cujo trabalho Magnet TV (1965) redefiniu a relação entre espectador, tecnologia e arte. Ele utilizava televisores como telas de experimentação estética e política, antecipando uma crítica à massificação da mídia.
Segundo o livro Video Art de Michael Rush (2003), a videoarte se consolidou como um campo artístico voltado à subversão. Muitos trabalhos abordavam a censura, a guerra, o controle midiático e a alienação social.
Artistas como Martha Rosler e Bill Viola utilizaram o vídeo para explorar questões de gênero, violência e espiritualidade. A obra Semiotics of the Kitchen (1975), de Rosler, por exemplo, desconstrói os estereótipos do papel feminino por meio de uma performance simples, porém poderosa.
Na mesma linha, estudos como Theories and Documents of Contemporary Art (Stiles e Selz, 2012) ressaltam como a videoarte foi um dos primeiros campos a incorporar diretamente o corpo do artista como meio e mensagem. Essa centralidade do corpo, muitas vezes em tensão com o espaço, é uma constante até hoje.
Experiências Sensoriais e Imersão
Ao longo dos anos, a videoarte passou a explorar mais do que a crítica social. Ela se expandiu para o campo da experiência sensorial. Com o uso de múltiplas telas, sons ambientes, movimentos lentos e imagens abstratas, os artistas criaram instalações que envolvem o espectador em ambientes imersivos.

Bill Viola, já mencionado, é um dos nomes centrais nessa virada sensorial. Suas obras criam experiências quase meditativas, abordando temas como o nascimento, a morte e a espiritualidade.
O MoMA (Museum of Modern Art) e a Tate Modern já dedicaram exposições inteiras à sua produção. Em The Crossing (1996), por exemplo, a fusão de vídeo em câmera lenta e sons mínimos conduz o público a um estado contemplativo.
Essas experiências não são apenas visuais, mas também físicas. Em muitas exposições, o corpo do espectador torna-se parte da obra. A interação com o espaço e a sensação de estar “dentro” da arte são elementos que redefinem os limites entre obra e público. A videoarte, nesse sentido, não se assiste: ela se atravessa.
Videoarte no Contexto Contemporâneo
Hoje, a videoarte ocupa um lugar de destaque em centros de arte contemporânea, mas também em plataformas digitais. Artistas como Pipilotti Rist e Hito Steyerl continuam a renovar essa linguagem.
Rist, por exemplo, utiliza cor, música pop e projeções em grande escala para transformar galerias em verdadeiros ambientes oníricos. Já Steyerl trata de temas como vigilância digital e algoritmos, unindo crítica política e estética pós-internet.
O Centro de Arte Contemporânea ZKM (Alemanha) e o Sesc Pompeia (Brasil) são apenas alguns dos espaços que têm valorizado a videoarte em exposições de destaque.
Além disso, plataformas como a UbuWeb oferecem acesso gratuito a centenas de obras históricas e contemporâneas de videoarte, expandindo seu alcance para o público geral e pesquisadores.
Em um mundo saturado por vídeos efêmeros e algoritmos que ditam o consumo, a videoarte resiste como um espaço de pausa, crítica e envolvimento profundo. Ela desafia não só os formatos, mas também os hábitos visuais e as percepções do espectador.
Assim, a videoarte segue atual e necessária, reinventando-se com as tecnologias emergentes e permanecendo como uma das formas mais livres e intensas da arte contemporânea.